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As Bacchantes nas mãos venham mostrando
Os thyrsos já de folhas coroados,
Sonoros dithyrambos entoando:
Os copos esgotados

Alegremente sejam nesses dias

Em que ao bimater Deos honram orgias.

Contentes e ligeiros lavradores,

Em torno de uma victima c'roada,
D'Eleusina os beneficos favores,

Co' a familia adorada,

Invoquem nas silvestres suas danças,
Guiados de doiradas esperanças.

Pize Dryade leve o campo agreste,
Indo buscar do bosque a sombra escura,
Onde Sylvano ainda honra o cypreste;
Juntando com ternura

Os Satyros caprinos e amadores,

Que ao pé delle relatem seus amores.

Em quanto longe voa o meu desejo,
Distante d'Ambarval e d'Ascolia,
Debaixo d'um loureiro alegre vejo
Volver brilhante o dia

Em que Tirce nasceo; e então suspira
Suavemente amor ao som da lyra.

Então por concertar versos suaves
Escuto o som das aguas murmurando,
Os gorgeios amaveis com que as aves
No campo estão saudando

Aquella madrugada precursora
Do dia em que nasceo esta Pastora.

O mais doce prazer me inunda o peito; Chóro ausente não vê-la; mas do pranto Amor sabe abrandar o amargo effeito Quando seu nome canto:

Tirce... Tirce mil vezes nomeando,

Que impressão tão suave 'stou provando!...

Não invejo o metal que Pluto espalha,
Nem as palmas honrosas do soldado
Que as vai colher no seio da batalha:
Por cantar com agrado

Mil extremos, que d'alma estão saindo,
Citara branda invejo, metro lindo.

Mas bem que rouca a voz o verso entoa,
Presta ouvidos, oh valle, ao terno canto
Que no teu seio tosco, alegre soa:
Por Tirce a voz levanto;

Ouçam della tuas grutas o elogio,

Em quanto a Thetis siga o patrio rio.

E vós que ouvis cantar um peito isento,
Deosas silvestres, Nymphas da espessura,
Vede qual póde ser o fundamento

De tão nova ternura!

Que objecto!... Se é difficil explicá-lo,
Vale mais respeitosas ponderá-lo.

Recebe, oh Tirce, a pobre cantilena
Com que Lilia no dia dos teus annos
Honra nos valles sempre a rude avena:
Teus dotes, mais que humanos,
Dignos são de outro canto, outros louvores;
Mas eu cantar só posso entre Pastores.

E tu, Canção, narrando uns sentimentos
Puros como a manhã que desce clara,
Soa lá onde mora Tirce cara,

Mais doce que os mais doces instrumentos.

CANÇÃO.

ACORDAI,

ternas aves, com meu canto:

Esposa de Titão, suspende o pranto;
Se ao filho querido

No peito enternecido

Crias de pranto amargo inda um tributo,

O rosto mal enxuto

Volve a mim, pois que faço hoje a saudade
Primeira saudação da claridade.

Lança os olhos celestes

Nestes campos agrestes,

Suprema Divindade, e reconhece

O asylo em que a minha alma desfallece.
Se males não vulgares

São, Titonia celeste, os meus pezares,
Olha de lá do Ceo,

Esquecerás teu damno pelo meu.

Por mais que espalhes rosas matutinas,
Por mais frescas boninas

Que á madrugada o lindo prado off'reça,

Não ha bem com que os males meus esqueça.

Em vão submissa a dura sorte imploro;
Insensivel ao chôro,

Aos ais que hoje derramo,
O Destino que eu chamo

Indignado responde aos meus clamores;
E cruelmente aos labios meus applica
A taça adonde encerra os seus furores.
Em vão queixoso explica

Meu peito em seus suspiros

Os damnos meus ás grutas, aos retiros:
Atys, se ouve, n'um tronco transformado,
Insensivel se mostra ao meu cuidado:
Anaxarte, que a rocha inda mais dura,
Não se commove á minha desventura.
O Tejo, que algum dia, se eu cantava,
Erguido sobre as ondas m'escutava,
Hoje nem se enternece,

E ao som dos meus gemidos adormece.
Bem póde alguma Nympha, commovida
De ver tão triste vida,

Contar a minha historia com ternura

No bosque, ou na espessura: Os pastores, tão duros como as penhas Ao som da branda avena,

Commentam c'um sorriso a minha pena, Mostram mais que de feras ter entranhas.

Pois que inutil meu canto ao vento entrego,
Cantiga, te dissipe o fero vento:
Oh! permittisse o Ceo, por meu socego,
Roubar-me a causa até do pensamento!

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