CANÇÃO. Ciumes. teus golpes cuidei que as pisaduras Sómente o teu deleite recordassem: Tantas lagrimas, tantas amarguras, Entre a accesa cohorte das saudades, Que em meu coração vais exp'rimentando. Nas primicias da vida, nessa idade Do argentino cristal das frescas fontes Bastava a luz, bastava-me o ar ligeiro, Me recordar de Clicie, ou de Arethusa, Neste estado bradou-me Amor tão alto, Que continha teus filtros venenosos... Na torrente de um fogo azul, espesso, Se um verdugo, uma harpia, O Ciume, meu peito já roendo, Á luz sulfurea e pallida da tocha, Com que o monstro feroz me allumiava, Que os torvos olhos contra o Ceo voltava: Que o espirito de Dido amedrentado Do Averno as bronzeas portas se me abriram, As eternas abobadas feriram, Explicando o seu mal com feros brados: Não ter em troca a pena; qual sem tino E em vão pretende o fim do seu destino... Mas qual Boreas, que altivo se levanta, Derruba capiteis, povos espanta, E envolve em pó os campos que amotina: Este grupo d'imagens desastradas Vai sobre as azas desse monstro infame, |