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EPISTOLA

A Alceste. (1)

ALCESTE, sabio Alceste, revolvendo
Rotos papeis, das Musas inspirados,
De entregar-te quaesquer estou tremendo
Não sejam de outros olhos criticados.

Eu fallo em liberdade; uma alma nova
Como a minha, não soffre o vil disfarce:
Que sei eu se o que digo se reprova?
Que sei se deve a Musa limitar-se?

Bem como o bom Despreaux, não me equivoco,
O nome proprio dou á fraude, ao vicio;

A meu favor Verdade, Astréa invoco,
Deidades

que dão

pouco beneficio.

Como do Olympo os Deoses são fingidos,
Sem que offenda a moral, que firme adoro,
Finjo Dianas, Martes, e Cupidos,

Fallo com elles, finjo que os imploro.

Não soffre a nossa terra esta linguagem ;
Paiz onde se queimam feiticeiras
Descobre o mal n'uma innocente imagem,
Como o demonio em casa das primeiras.

Ha ciumes aqui até de Apollo;
Basta que uma mulher com elle falle
Para ter liberdade qualquer tolo
De mandar seja presa até que estale.

(1) O Doutor Ignacio Tamagnini,

QUANDO

EPISTOLA

A uma Freira em Chellas.

UANDO em silencio adormecem

Todos os seres mortaes,

Ligeiros á tua cella

Voam saudosos meus ais.

Dize, lêste os versos d'hontem,
Onde insculpio a ternura,
Commovida ao contemplar-te,
Indicios de magoa pura?

Agora que tudo dorme,
Agora que só s'escuta
Da noite o surdo rumor,
Reflexo d'alguma gruta;

Quando toda a natureza,
Envolvida em sombra densa,
Dá liberdade aos suspiros

Que nascem de magoa intensa:

Corre o vago pensamento,
E no pequeno recinto

De uma cella, ahi te encontro
Para explicar-te o que sinto.

Eu te vejo, oh Ceos! que vista!
Aprisionando entre flores
Os corações delicados

De mil captivos amores.

Das perfeitas mãos te nasce
Ora murta, ora alecrim,
Ora imitando teu rosto
Candido e lindo jasmim.

Que idéas ternas te inspiram!
Quando o gosto da leitura
Diminue brandamente

O cargo da desventura!...

Nos discretos caracteres
Vão teus olhos magoados
Ora lendo o seu conforto,
Ora o decreto dos Fados.

Já te lanças brandamente
No seio da paciencia;
Já te recrea admirar
O aspecto da Providencia.

Eu te sigo suspirando,
E teço então sobre a lyra
Estas cantigas saudosas,
Que o contemplar-te m'inspira.

Se meus versos te consolam,
Sempre a branda sympathia
Conduzirá no silencio

A Musa que teme o dia.

EPISTOLA

De Izabel Clesse, no tempo em que vai a morrer por um crime que não confessa, ou não tem (1); a seu pae, que fóra o seu denunciante, segundo diz a voz publica.

INJURIAD

URIADO Pae, que me injurías,
Que fazes terminar meus curtos dias
No seio da ignominia e da desgraça:
Das minhas mãos ás tuas hoje passa
Este funebre, terno, e ultimo escripto,
Que moribunda firmo, e sem delicto:
Não te argúo da pressa com que morro,
Nem já 'gora te peço algum soccorro.

Eu não me queixo, oh Pae, se depuzeste
Contra a vida que mesmo tu me déste:
Uma obra que artista bom comece
Nunca geme se ás mãos delle perece.

Se a honra, que em teu peito brilhar vejo,
Illudida é que excita este desejo,

(1) Canço-me pouco em examinar se a minha opinião sobre o facto que deo assumpto a esta epistola, é a melhor. Sem injuriar os que sentencearam a desgraçada Izabel Clesse, quero, para recreio da minha imaginação, julgar falso o seo crime; seja ou não seja, para mim, e para a Poesia, basta-me que alguem chegasse a duvidar delle. As razões que para isso tenho são sufficientes para me satisfazerem a mim, e ás pessoas que tiverem a paciencia de as examinar como eu.

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(Nota da auctora).

(2) Se a honra, etc.- A honra é muito distincta daquella que figuram vulgarmente os preoccupados e os ignorantes. As illusões é que sómente produ

Bem que possa arguir-te, Pae querido,
Não te argue o meu ultimo gemido.
Só digo nestas ultimas palavras,

Que o punhal que em meu peito hoje tu cravas,
Outro, que a paz possue impunemente,
Ferir podia, menos innocente.

Eu sei... eu sei, ah! com que magoa o digo!
Que tu foste o meu unico inimigo;
Que a deshonra sómente imaginada

Te bastou para que eu fosse accusada.

Contra um pae denunciante ah! quem se atreve
A julgar que o meu crime seja leve?
Com horror todos leem hoje o delicto
Pela tua mão na minha frente escripto:.
Em vão ao mundo, ás illudidas gentes:
Clamarão minhas vozes innocentes.

Serão mais fracas da innocencia as vozes
Por serem as calumnias mais atrozes;
Mas por ser mais enorme a tyrannia,
A innocencia menor nunca seria.

Meus beiços, de uma cor amortecida,

Onde apenas reside ainda a vida,

Te rogam que procures no teu peito

zem estes phenomenos tristes com que geme a especie humana. Enganam-se muito os paes e os mestres que julgam a proposito os grandes castigos para reprimir os defeitos de seus filhos, ou discipulos: longe de lhes imprimirem o amor da virtude, fazem-se horrorosos, offendendo as leis da natureza, de quem foi author o Ser Supremo. Na virtude é que consiste a felicidade, e a felicidade é incompativel com a tyrannia.

A infeliz que falla nesta epistola, convencida da illusão de seu pae, não o argue, porque é inutil partido o dos argumentos quando, o tomam os desgraçados, que lucram mais soffrendo em silencio, filosophicamente.

(Nota da auctora).

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