EPISTOLA A Alceste. (1) ALCESTE, sabio Alceste, revolvendo Eu fallo em liberdade; uma alma nova Bem como o bom Despreaux, não me equivoco, A meu favor Verdade, Astréa invoco, que dão pouco beneficio. Como do Olympo os Deoses são fingidos, Fallo com elles, finjo que os imploro. Não soffre a nossa terra esta linguagem ; Ha ciumes aqui até de Apollo; (1) O Doutor Ignacio Tamagnini, QUANDO EPISTOLA A uma Freira em Chellas. UANDO em silencio adormecem Todos os seres mortaes, Ligeiros á tua cella Voam saudosos meus ais. Dize, lêste os versos d'hontem, Agora que tudo dorme, Quando toda a natureza, Que nascem de magoa intensa: Corre o vago pensamento, De uma cella, ahi te encontro Eu te vejo, oh Ceos! que vista! De mil captivos amores. Das perfeitas mãos te nasce Que idéas ternas te inspiram! O cargo da desventura!... Nos discretos caracteres Já te lanças brandamente Eu te sigo suspirando, Se meus versos te consolam, A Musa que teme o dia. EPISTOLA De Izabel Clesse, no tempo em que vai a morrer por um crime que não confessa, ou não tem (1); a seu pae, que fóra o seu denunciante, segundo diz a voz publica. INJURIAD URIADO Pae, que me injurías, Eu não me queixo, oh Pae, se depuzeste Se a honra, que em teu peito brilhar vejo, (1) Canço-me pouco em examinar se a minha opinião sobre o facto que deo assumpto a esta epistola, é a melhor. Sem injuriar os que sentencearam a desgraçada Izabel Clesse, quero, para recreio da minha imaginação, julgar falso o seo crime; seja ou não seja, para mim, e para a Poesia, basta-me que alguem chegasse a duvidar delle. As razões que para isso tenho são sufficientes para me satisfazerem a mim, e ás pessoas que tiverem a paciencia de as examinar como eu. (Nota da auctora). (2) Se a honra, etc.- A honra é muito distincta daquella que figuram vulgarmente os preoccupados e os ignorantes. As illusões é que sómente produ Bem que possa arguir-te, Pae querido, Que o punhal que em meu peito hoje tu cravas, Eu sei... eu sei, ah! com que magoa o digo! Te bastou para que eu fosse accusada. Contra um pae denunciante ah! quem se atreve Serão mais fracas da innocencia as vozes Meus beiços, de uma cor amortecida, Onde apenas reside ainda a vida, Te rogam que procures no teu peito zem estes phenomenos tristes com que geme a especie humana. Enganam-se muito os paes e os mestres que julgam a proposito os grandes castigos para reprimir os defeitos de seus filhos, ou discipulos: longe de lhes imprimirem o amor da virtude, fazem-se horrorosos, offendendo as leis da natureza, de quem foi author o Ser Supremo. Na virtude é que consiste a felicidade, e a felicidade é incompativel com a tyrannia. A infeliz que falla nesta epistola, convencida da illusão de seu pae, não o argue, porque é inutil partido o dos argumentos quando, o tomam os desgraçados, que lucram mais soffrendo em silencio, filosophicamente. (Nota da auctora). |