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Eu não sei que vapor envenenado
Neste sitio de horror tambem respiro:
Ou deliro... julgando haver pensado?
Ou penso... quando julgo que deliro?

Tanto póde essa lei irrevogavel

Da fera mãe das Parcas agressoras; (1)
Traz dos males a serie inevitavel,

Com que alonga, inda mal, as nossas horas.

Dos males me entretenho e me consolo,
Revolvendo as imagens que me cercam ;
Nos versos que animar devêra Apollo
Lanço a dor; ella faz que a graça percam.

Não os lêas, oh Tirce, se magoam
Teu coração, delicia dos mortaes;
Tornem ao valle agreste adonde soam
Ha tres lustros completos os meus ais. (2)

(1) As Parcas, segundo a mythologia, são filbas da Necessidade e do Destino.

(2) Quinze annos e mais de meio de desastres annunciam uma idade avultada. Eu acabo de completar vinte e quatro annos, de que só oito tive o gosto de viver no seio da minha familia. Parece que nesta idade se tem mais alguns direitos á compaixão das almas sensiveis; e como dos bens da vida este é o unico de que tenho esperanças, julguei necessaria esta nota.

(Notas da auctora).

DISSE

CONVERSAÇÃO ENTRE TRES.

ISSE Venus a Juno: «Basta d'iras,

<< Já basta, oh Pallas, de crueis contendas;

« As que ambas possuis são grandes prendas:

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Tu dás poderes, tu sciencia inspiras.

<«< Sem que invejeis a minha formosura, «Tratemos todas uma paz segura;

« Démos as mãos, façamos crua guerra

<< Contra Alcipe, que ás tres nos rouba o culto; << Mettamos forças a vingar o insulto ;

<< Pereça o altar que lhe ergue toda a terra. » «< É vão, diz Juno a Venus, teu enfado:

« Essa mortal (a Jove o ouvi) já goza

<< Culto grande por sabia e por formosa:

«

<«< Quem sabe o que inda lhe reserva o Fado?

FILINTO.

EPISTOLA.

Resposta d'Alcipe.

An! Filinto, que versos magoados

Agora vão nascer, bem tristemente,
De uma lyra cercada de cuidados,
Que inda o Ceo por piedade me consente!

Em meu peito, onde a simples natureza
Erige o doce templo da ternura,

Lança todos os damnos da tristeza,
Qual furia enorme, a seva desventura.

Giram meus ais em torno a um triste leito,
Pallida vejo a Mãe... Oh Ceos, que vista!
Amor geme encostado no meu peito:
E inda Venus cobiça esta conquista2...

Assás vingada está... Oiça o ruido
De meus ferros pesados, meus clamores;
Olhe o gesto do Fado desabrido;
Ha de chorar, e o bando dos Amores.

De outra Arachne que tece fragil têa,
Pelas noites d'inverno, a um fraco lume,
Póde a Deosa que os orbes senhorêa,
Ou a sabia Minerva, ter ciume?

Vê, Filinto, se as moves a piedade,
Pois se pômos dourados eu tivera
Nem Venus só nutrira alta vaidade,
Nem Pergamo soberba se abatera.

Adeos, Filinto, adeos, que já me chama
Em soccorro da Mãe o meu cuidado:

Que pallidez!... Que susto em mim derrama!...

Quem sabe o mais que me reserva o Fado?...

TUAS

EPISTOLA

A Alcipe.

UAS queixas, Alcipe, lastimosas,
Que as frigidas Napéas enternecem,
Filhas são mais de entranhas generosas
Que gemidos da dor que ellas padecem.

Cantar a crueldade em branda rima
É mór honra fazer da que merecem
Aos auctores do mal. Teu verso anima
A mesma furia que cruel lamenta.
O silencio no peito a dor reprima,
Ignore Apollo a dor que te atormenta;
Porque não lhe accrescente a vaidade
Estimulos que a façam mais cruenta.
De teus sons á divina suavidade
Ministre assumpto a varia Natureza
Mais digno. Canta o Sol, a actividade
Dos seus raios ardentes que a viveza
De teus esgares rastrear presume:
De Phebe canta a placida belleza,
Retratada no mar ao proprio lume:
Canta a estrella da Deosa que a victoria.
Cedera por não ter de ti ciume:
Canta os Marcios troféos, adonde a gloria
Dos Almeidas envolta, só lhe falta
Que a tu mostres ás Filhas da Memoria:
As flores de que Apollo a borda esmalta
Da fonte sacra donde bebe Jove:
A Marcia canta, cujos dons exalta,
Rendida á graça, que os amores move,

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